Por Marcelo Onaga | 12.11.2009 | 00h01
Apesar de sua distância do dia a dia das empresas, seria um erro tratar Bañuelos como mero investidor institucional. É ele quem define a estratégia e o plano de crescimento de suas companhias. Depois, entrega a execução às pessoas que escolheu. No Brasil, Bañuelos elegeu dois homens de confiança. Um deles é Marcelo Parachinni, ex-vice-presidente do banco Santander na Espanha e principal executivo da Veremonte. É ele quem busca novos negócios para que o espanhol invista. O outro é Silveira Pinto, seu sócio na Agre. Fundador da Agra, ele é considerado pelo setor um dos grandes gestores de incorporadoras no país. Sua credibilidade com os bancos também foi decisiva na escolha da parceria. Coube a Silveira Pinto acertar a compra da Abyara e da Klabin Segall e renegociar suas dívidas, de mais de 1,2 bilhão de reais, com os bancos. A compra das duas incorporadoras revelou a forma arrojada como Bañuelos e seus enviados fazem negócios. Não houve processos de auditoria em nenhuma das companhias. A situação de caixa de ambas era crítica e foi necessária uma ação rápida. "Eles assumiram o risco e aproveitaram um momento de preços muito baixos para comprar duas empresas boas que enfrentavam problemas", diz Eduardo Silveira, analista de construção civil do Banco Fator.
A derrocada cinematográfica em seu país natal, a Espanha, representou para Bañuelos não apenas uma mudança em sua estratégia de negócios como também afetou profundamente sua vida pessoal. A sede da Veremonte passou a ser Londres. É de lá que o jato executivo Gulfstream 550 da Rentalia decola para levá-lo a diversos pontos do mundo. Seu destino mais frequente é o Brasil, onde já passou 160 dias deste ano. Até o final de outubro, Bañuelos costumava se hospedar em hotéis paulistanos durante as visitas ao país. Há poucas semanas, mudou-se para uma cobertura na Vila Nova Conceição, bairro nobre ao lado do Parque Ibirapuera (adepto de meias maratonas, o empresário corre no parque vizinho sempre que pode). Seu lazer quando está no país se resume a passeios a pé pelas ruas de São Paulo. "Gosto de andar e não sei dirigir. Então caminho muito." Sua família continua morando em Valência. A mulher trabalha para o governo como fiscal de renda. As filhas, de 9 e 11 anos de idade, estudam em uma escola comum, têm aulas particulares de mandarim e uma vida tão comum quanto garotas bilionárias podem ter. "Quero que elas cresçam como crianças normais", diz Bañuelos. Para matar a saudade, o empresário fala com as meninas duas vezes por dia por videoconferência. Nos fins de semana, ele voa para Valência ou a família se desloca para Londres. O estilo de vida confortável que Bañuelos pode oferecer às filhas contrasta com sua infância difícil. Após a morte do pai, vítima de um acidente de trabalho, ele, a mãe e a irmã passaram por dificuldades financeiras. A empresa onde o pai trabalhara pagou seus estudos, mas não havia renda suficiente para as demais necessidades da família. "Muitas vezes a comida acabava antes de o mês terminar", diz ele. Aos 16 anos, juntamente com três amigos, ele abriu seu primeiro negócio, a Miel de Luna, uma pequena fabricante de mel. Aos 19, criou uma imobiliária. Uma década depois, sua empresa já tinha um tamanho respeitável. Começa, assim, sua vida de investidor no mercado de imóveis. Em 2005, sua empresa valia 1 bilhão de dólares.
Bañuelos venceu a miséria, sobreviveu, embora chamuscado, ao colapso no mercado espanhol e agora, aos 43 anos de idade, tenta repetir seu período de fausto no Brasil. "Aos poucos ele foi mostrando seus planos, investindo dinheiro próprio e vencendo a desconfiança", diz Sérgio Carettoni, acionista minoritário da Agre. Mas o próprio Bañuelos sabe que, para afastar as nuvens que o cercam, ele precisará fazer de seus planos negócios reais.