Fundo Americano muda nome da Construtora e Incorporadora Inpar para "Viver"

Daniela D'Ambrosio
31.03.2011

A construtora Inpar vai mudar de nome. Depois da saída dos dois últimos membros da família Parizotto da gestão da companhia em julho do ano passado, o fundo americano Paladin - controlador da construtora há dois anos - decidiu batizar a empresa de Viver. Com isso, apaga a última - e mais forte - herança deixada pela família que fundou a companhia em 1991.

A mudança, nesse caso, é emblemática e representa muito mais do que uma ação de marketing institucional - com todas as implicações que a alteração de nome de uma empresa invariavelmente traz. InPar deriva de Incorporações Parizotto. Criada pelo empresário Alcides Parizotto, que anos antes vendeu muito bem a rede varejista Atacadão. A incorporadora esteve entre as líderes do mercado em meados dos anos 90 e assinou prédios de altíssimo padrão em endereços exclusivos de São Paulo.

Mas a saúde financeira da companhia começou a ruir no começo dos anos 2000. O principal motivo - além da crise no mercado de hotéis e flats, onde a companhia tinha forte presença - foi o investimento da família na fábrica de reciclagem de alumínio Recipar, que drenou recursos da incorporadora. Foi o primeiro sinal que a família passou ao mercado de uma gestão complicada.

Mesmo sem um único lançamento a partir de 2003, a InPar ainda conseguiu abrir capital em 2007 com empréstimo de R$ 100 milhões do Credit Suisse, mesmo banco que coordenou a oferta. Montou um banco de terrenos robusto para seduzir o mercado e conseguiu captar R$ 670 milhões. Mas a empresa, como Abyara e Klabin Segall, não resistiu à crise financeira de 2008 e quase quebrou - pela segunda vez - diante de uma crise de liquidez que comprometia a continuidade da operação. Nem a venda de ativos - a companhia tinha bons negócios em seu portfólio - resolveu. Depois de assistir as ações derreterem na bolsa - com 90% de queda em um ano - a família vendeu o controle da companhia para o fundo Paladin por apenas R$ 180 milhões.

Sucessivos anos de crise ficaram impregnados na marca. Embora Álvaro Simões, presidente da companhia desde que o Paladin assumiu, procure desvincular a mudança de marca dos problemas vividos anteriormente, o nome InPar, na visão do mercado, ficou machucada com o tempo. "Depois que chegamos à empresa, iniciamos um plano de reestruturação, mudamos os valores e começamos a ser chamados de nova InPar", diz Simões. "Percebemos que uma nova marca poderia refletir o processo iniciado há dois anos", diz Simões.

Quando perguntado diretamente se a marca carrega um resquício negativo, Simões esquiva-se dizendo que não há pesquisas que atestem que a marca tinha problemas. "Não tivemos urgência na mudança, começamos a discutir a questão em maio do ano passado", completa.

Atualmente, apenas Marco Parizotto, membro da família fundadora e que ainda detém ações, tem assento no conselho. Até metade do ano passado, ele era responsável pela área comercial da companhia. A saída da família do dia-a-dia sempre foi considerada importante pelo mercado depois da abertura de capital. Quando assumiu a gestão, o Paladin manteve apenas dois membros de um total de oito das famílias Parizotto e Neves (que sempre teve uma participação relevante) em uma diretoria composta por 15 executivos.

O nome Viver foi, na verdade, a segunda opção. O grupo havia escolhido a marca Allia - descartada por ser o novo nome do grupo hoteleiro que resultou da aliança entre o Grupo Solare, Bristol Hotels e Plaza Inn. Viver era, até agora, a assinatura da InPar para o segmento econômico e de média renda. "Tínhamos uma marca boa dentro de casa", diz Simões, que comunica aos funcionários hoje a nova assinatura da empresa.

Durante meses, os diretores e equipe de marketing trabalharam trancados - literalmente - em uma sala de reuniões para conceber o projeto. O símbolo antigo da InPar também sai de cena. Vai desembolsar R$ 4 milhões em marketing para comunicar a nova marca em mídia impressa e TV.

Desde que assumiu, o Paladin fez uma reestruturação financeira na companhia, que incluiu a captação de R$ 300 milhões em crédito à produção com os bancos Santander, Bradesco e HSBC e continuou a venda de ativos, iniciada antes da chegada. Levantou cerca de R$ 340 milhões. No começo do ano passado, fez uma nova oferta com preço abaixo do esperado e captou R$ 224 milhões.

Concentrou a atuação em São Paulo capital e interior, Belém, Belo Horizonte e Goiânia e praticamente não fez lançamentos. A empresa ficou parada do ponto de vista operacional e passou a ser cobrada pelo mercado por isso. Dados do balanço publicado ontem mostram retomada das atividades e melhora da performance financeira. De 2009 para 2010, os lançamentos cresceram 464,5%. Já as vendas evoluíram numa proporção menor: 108,6%. No mesmo período, o Ebitda (lucro antes dos juros, depreciação e amortização) cresceu 209% e o lucro líquido evoluíram 419,3%, de R$ 12 milhões para R$ 67 milhões. Mas a base de comparação é totalmente atípica. "Demonstramos capacidade de lançar, vender e auferir resultado", diz Simões. A margem líquida saiu de 2,7% para 8,7%, mas ainda abaixo da média de mercado, de 15% nos nove primeiros meses de 2009.

Mas o mercado ainda não "comprou" esse novo capítulo da empresa. A ação fechou ontem cotada a R$ 3,14, abaixo dos R$ 3,48 do fim de 2009, quando o Paladin entrou na companhia. O valor da ação hoje é 82% abaixo do preço de lançamento na abertura de capital. O papel cai 8,99% no ano para queda de 12,86% do Imob e sobe 1,95% nos últimos 12 meses, contra alta de 6,96% do índice. O valor de mercado da companhia está em R$ 895,9 milhões.