Murillo Camarotto | Do Recife
Lançado em 2005 pelo guru sul-coreano W. Chan Kim, o livro "A Estratégia do Oceano Azul" teve notável reconhecimento ao ensinar como tornar irrelevante a concorrência por meio do desbravamento de novos mercados, batizados pelo autor de "oceanos azuis". Um entre os muitos fãs da obra, o empresário pernambucano Marcos Roberto Moura Dubeux encontra nos mantras de Kim a melhor definição para o sucesso da construtora que leva o seu sobrenome. Fundada há 27 anos por seu pai e tios, a empresa vai faturar pelo menos R$ 750 milhões em 2011, ano em que ingressará no setor siderúrgico.
Afora as teorias do guru, a trajetória da Moura Dubeux passa, de fato, por uma relação próxima com o mar. A empresa tem como principal cartão de visita a Avenida Boa Viagem, onde ficam os apartamentos mais valorizados do Recife, de frente para a praia de mesmo nome. Fundada pelos irmãos Marcos, Gustavo e Aluísio, os três engenheiros, a construtora ergueu boa parte dos luxuosos edifícios residenciais da avenida, e hoje vislumbra a trilha de gigantes nacionais surgidas no Nordeste, como Odebrecht e Queiroz Galvão.
Apenas cinco anos mais velho do que a empresa, Marcos Roberto, filho de um dos fundadores e hoje conselheiro, conta que o negócio começou pequeno, em tempos em que o crédito imobiliário privado praticamente não existia no Nordeste. Naquele cenário, os irmãos Dubeux começaram a viabilizar empreendimentos em sistema de condomínio fechado, pelo qual os únicos investidores são os futuros moradores do prédio.
O modelo progrediu beneficiado pelo fato de o Recife ser a segunda menor capital do Brasil em área geográfica, à frente apenas de Aracaju. "A verticalização era inevitável", comentou o executivo, em entrevista ao Valor, concedida no 13º andar do Empresarial MD (Moura Dubeux), de onde se avista o oceano azul.
Sem o dinheiro do mercado de capitais, a Moura Dubeux priorizou a expansão dos seus negócios pelo Nordeste
Durante as duas primeiras décadas, a construtora se concentrou em empreendimentos de alto padrão, que continuam sendo o carro-chefe da operação, com cerca de 65% do faturamento. Hoje, contudo, a empresa também tem uma atuação importante no segmento de baixa renda, no qual atua sob a marca Vivex, criada em 2006, quando o crédito privado já brotava, mesmo que ainda tímido, no setor.
Entre os principais mandamentos do "oceano azul" consta a inovação permanente, que Marcos Roberto garante estar no DNA da construtora. Talvez tenham surgido daí polêmicas como a que envolveu a construção de duas torres de alto luxo no cais Santa Rita, no centro do Recife, onde prevalecem as construções antigas. Não foi pequena a grita contra o projeto, que ficou um bom tempo emperrado nos tribunais, chegando, inclusive, a ter contestada a validade do leilão no qual foi adquirido o terreno. "Esse assunto já nasceu morto", desconversa o executivo.
Um dos moradores ilustres das torres é o senador e duas vezes governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), apontado por fontes locais como o preferido dos Moura Dubeux na política local. Marcos Roberto garante, entretanto, que as relações da família com a política são meramente institucionais. O mais próximo que chegam de algum cargo majoritário é a presidência do Sport Club do Recife, ocupada desde o fim do ano passado por Gustavo José Moura Dubeux.
Como típica empresa familiar, a Moura Dubeux mantém o mesmo CNPJ desde a fundação. E foi para preservar essa "tradição" que seus donos desistiram de abrir o capital na época em que várias construtoras brasileiras foram buscar dinheiro na bolsa. "Chegou uma hora em que o mercado passou a pedir ofertas muito volumosas para dar liquidez, e aquilo significaria para nós uma diluição muito grande [da participação]", relembra Marcos Roberto. "Ouvi de um banqueiro que bolsa de valores é como Mario Bros: você tem vidas. A cada vez que você faz um follow on [oferta pública], perde uma vida", comparou.
Sem o dinheiro do mercado de capitais, a Moura Dubeux priorizou a expansão dos negócios pelo Nordeste. Por meio de parcerias com investidores financeiros, levou seus prédios para Natal (RN), Fortaleza (CE), Maceió (AL) e Salvador (BA). Em 2007, passou a fazer financiamentos em parceria com o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), mesmo ano em que o outro oceano se abriu no horizonte.
De olho no potencial do porto de Suape, a construtora adquiriu uma área de 15 milhões de m2 contígua ao ancoradouro. O objetivo era abrigar e atender com soluções de infraestrutura as empresas classificadas no linguajar portuário como de terceiro nível, ou seja, de pequeno e médio porte e voltadas ao fornecimento de produtos e serviços às indústrias que ficam mais próximas ao mar.
Diante do vulto do projeto, investimento superior a R$ 1,5 bilhão, o grupo decidiu abrir uma nova companhia, batizada de Cone SA, abreviação de Condomínio de Negócios. Já como empresa constituída, a Cone recebeu um aporte de R$ 500 milhões do Fundo de Infraestrutura gerido pela Caixa Econômica Federal (FI-FGTS), que passou a deter participação próxima de 33% no capital. A Cone, porém, está aberta a receber novos sócios.
Tentando explicar o novo negócio em poucas palavras, Marcos Roberto disse tratar-se de uma empresa de soluções em infraestrutura. No caso de Suape, a Cone irá oferecer desde o modelo de áreas sob encomenda (build to suit) até galpões multiuso, além de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Também haverá instalações para escritórios, com hotéis e centros de convenções e de compras. "Queremos ser a maior do Brasil nesse setor", diz o executivo, que já pensa em uma atuação nacional.
E foi na ânsia de povoar as áreas adquiridas que a Cone acabou entrando no setor siderúrgico. Convidado a integrar o conselho de administração, o ex-principal executivo da LLX, Ricardo Antunes, convenceu o grupo siderúrgico Trasteel, com sede na Suíça, a desembarcar em Suape. Para acelerar o fechamento do acordo, a Cone decidiu entrar no negócio. A empresa ficará responsável por toda a infraestrutura e será remunerada com uma participação minoritária na Companhia Siderúrgica de Suape (CSS), projeto de R$ 1,5 bilhão.
"No decorrer das negociações, a gente analisou a viabilidade da CSS e viu que era um bom investimento, além do que queríamos acelerar a decisão disso. Mas nosso objetivo sempre foi atrair uma nova cadeia para a região", explicou Marcos Roberto, antes de revelar o desejo da empresa em permanecer no setor siderúrgico. "Sem dúvida que é um bom negócio. Tem escala e demanda e queremos ficar."
Ele também não descarta a possibilidade de a Cone ser sócia de outros projetos, desde que tragam alguma nova cadeia produtiva para Suape. Os setores de alimentos, varejo, eletrônicos, têxtil, energia eólica, armazenagem e logística estão entre os potenciais candidatos a ampliarem o oceano azul da Moura Dubeux.